terça-feira, 4 de maio de 2010

Faceta Nua

Ah mulher, minha cara paixão.

Pra que tanto pó na cara

se o ímpeto de tornar o sutil traço

uma marca de vitória
é mais digno do que este borrão?

Que o mascarar da tua maquilagem
esconde um lindo olhar infantil, eu sei,
ao seu lado já me deitei,

e não, lhe juro, não me cansei.
Assim eu não te vejo mais!


Cadê aquela menina-mulher posse de tudo?
Ingênua e maliciosa,

na sua boca deliciosa.

Eu sei, não serei o último,

porem o primeiro talvez a perceber,

que apesar deste carnaval em você

o melhor se encontra na ressaca de nossas pernas
onde borras meus lençóis.

Aonde?

O dia vai nascer!
Meu fôlego vai morrer!
De novo nesta hospedagem,

linda flor que arde,

mais um dia sem esta suja maquilagem.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Apresentação II

Às vezes eu queria morar em algum pequeno apartamento, cheio de mobílias velhas, com uma poltrona verde e confortável, no centro de uma dessas grandes cidades à beira-mar. Dessas cidades que você não conhece ninguém. Não uma cidade praiana; uma cidade com mar, que você vai apenas pra pensar - ou não pensar -, tira o calçado, molha os pés e deixa o tempo passar em ondas.
Às vezes, eu tenho vontade de sentar num daqueles bares, na beira da estrada de uma pequena cidade onde não há nada pra fazer, onde as pessoas só ouvem música country na jukebox, e tomar porre de Jack Daniel's. Todos os dias. E todos os dias conhecer de novo as velhas pessoas.
Outras, me pego querendo sumir no mundo com a minha mochila, como aquele bom e velho clichê.
Já quis até ter algum emprego bacaninha, com um apartamento bacaninha, em uma cidade bacaninha, onde o meu objetivo diário seria o happy hour com os mesmos bons amigos.
Já pensei até em ter uma vida bege: um marido, um casal de filhos, fim de semana na casa dos amigos com um bom vinho e uma viagem diferente a cada ano.
Ainda levei a sério a hipótese de experimentar todas as drogas do mundo e morrer logo pra não ter mais que pensar no que eu quero. E isso foi logo depois de pensar em aprender a tocar algum instrumento, ter uma banda e viver a tocar por aí.
Outro dia, eu queria ir morar no meio do mato e passar o resto da minha vida lendo bons livros, ouvindo boa música e vendo bons filmes.


Ok, como se não bastasse eu invadir constantemente o espaço físico (não orgânico, que fique claro haha) do Fábio, agora passarei a aparecer nesse espaço virtual também :)

terça-feira, 23 de março de 2010

Do tudo ao nada

Então, meu filho, o que você é afinal? Vai ter que escolher e não sou eu que irei cobrar algo de ti... Escolha com a serenidade de um senhor e seja, pois temos que salvar você dos seus pecados, você que acabou de nascer, meu filho sagrado, parte de mim, parte desta entidade, que vocês humanos, seres que se denominam inteligentes ou esclarecidos, intitularam de Deus.
Te garanto uma coisa, de você não sou muito diferente, assim como não sou diferente de nada que você e seus semelhantes podem ver, entender e tocar, assim como não sou diferente das coisas que vocês, seres que acabaram de nascer e nem se conhecem direito, vão demorar muito pra entender.
Eu sou tudo e por conseqüência sou o nada. Tanto o infinito em expansão quando em retração, a explosão e implosão das estrelas que nascem e morrem e vivem muito mais que vocês, como seres medíocres que vocês são, espero que passem da média, assim como espero de todos os meus filhos, pois vivo em parte dentro deles.
Lembro também que a tua existência, como este serzinho de merda que és, este ser extremamente egocêntrico, não durará muito, talvez um pouco mais, mas lembre-se que sou tudo e que não vou deixar vocês simplesmente fuderem com tudo, não sou estúpido de perder tudo que sou, ainda mais sabendo que vocês não sobreviveriam sem o restante, prefiro aniquilar um do que ter que perder tudo e por fim me perder.
Alias, sabe o que é engraçado? Quando vocês surgiram como seres, num processo evolutivo, começaram a se encolher em lugares estratégicos para se defenderem das criaturas que hoje vocês dominam. Nesta época vocês me davam nomes diferentes, mas me respeitavam, procuravam me entender, acho isso justo, ou pelo menos entender os fenômenos que os proporciono, o show que é a vida que flui na mesma intensidade da de vocês, esta vida externa.
Vocês não tem mais tempo para observar a beleza de uma chuva? Vocês criam a sua própria distração. Desmistificar é bom, racionalizar é ótimo, porém vocês são irracionais demais para tentar se desfazer de todos os sentimentos.
Continuando, vocês, no não saber do que se tratava, idolatravam. Não queria ser idolatrado, mas sim respeitado. Hoje vocês dizem que conhecem e perderam o respeito. O tal ciclo da vida, nome que vocês escolheram, foi analisado, estudado, quase entendido, mas não aprenderam nada.
Após algum tempo da tal sociedade (este aglomero nojento e mal organizado de vocês) criada, vieram algumas histórias a meu respeito, achei muito legal, uma possibilidade de vocês começaram e se questionar do seu lugar no mundo.
Estas histórias, estes contos de fadas, todos eles, principalmente aquele que fala de um filho meu escolhido a dedo e concebido de forma milagrosa no mundo, os deixaram cegos!
Vocês pararam de questionar o vosso lugar no universo e simplesmente aceitaram as coisas como estavam, não é meu papel culpar ninguém, mas os poucos que perceberam como era engenhosa a forma com que estes discursos ideológicos os manipulavam, tiraram proveito.
Sacanagem deles ou burrice de vocês?
Ai se faz, ai se paga, é o que vocês mesmo dizem. O que mais me dói nesta história toda e quão irracionais são vocês, todos estes livrecos dos quais vocês usaram como amuleto por muito tempo, no fundo, dizem a mesma coisa, mas a cegueira é tanta e a manipulação tão fácil, quando vocês estão em massa, que isso foi deixado pra lá e começaram uma guerra de imposições, cada um impondo ao seu semelhante a interpretação 'correta' desta ficção.
Esta ficção que não passa da história de um personagem, que pra se sentir bem por ai, passou a pregar o bem. Talvez o personagem mais egocêntrico de todos. E venho gritando isso a tanto tempo, mas vocês não são capazes de parar e me escutar.
Não faz sentido um homem, para se sentir bem, para viver de uma maneira mais feliz, fazer bem ao outro, pois assim, com a felicidade para o outro, em uma corrente, ser retribuído da mesma forma?
Muito calculista? Vocês tentam calcular tudo hoje!
Mas não, a felicidade está em pisar na cabeça do seu semelhante e de todo o resto. Menosprezá-los, escravizá-los.
Estes seres, que são iguais a vocês, e se dizem fontes diretas de mim, se tratam como superiores e por isso vocês, inferiores. Assim como vocês com relação ao resto, ao todo e ao nada.

Vergonha!

Obs:. "É a única maneira de escrever um texto assim, sobre esse assunto, de outra maneira ficaria parecendo um ensáio ideológico, teórico e chato!" Juliane Fagotti comentando a minha dúvida do eu lírico prepotente.

segunda-feira, 15 de março de 2010

A grande viagem dos três patinhos

Esta é a história de três jovens garotos, o meio quilo, o meio burro e o meio metro, pra ser mais exato eles pareciam uma deformidade dos sobrinhos do Pato Donald.
Garotos felizes que um dia resolveram fazer uma viagem por ai, conhecer pessoas e lugares diferentes. Pensaram em tudo, até mesmo em como se alimentariam. A idéia toda estava ali, mesmo que fosse toda por causa da fumaça que eles tinham ingerido, a idéia era ótima.
O carro seria o do pai do meio metro. 
- E a comida? - Pergunta o meio quilo.
- Pizza, a gente faz do calor do motor. - Responde o meio metro.
- Água? - Pergunta o meio burro, realmente acreditando que teria achado o maior problema.
Um tempo de silêncio.
- Claro! Poxa! A do radiador? - Diz o meio quilo.
- Dinheiro pra gasolina? - Silêncio - Já sei, a gente faz com as pizzas que a gente vender para os malucos do asfalto. - Disse o meio metro.
- Caralho, vamos ai, dormir a gente dorme no carro! - Completou o meio burro.
E já agoniado com a espera da vez, o meio quilo grita - Passa a bola Romário!

Quem eram estes jovens? Isso não faz a mínima diferença, poderia ser você! Afinal, alguém não se acha fora de algum padrão estético/cultural midiaticamente imposto?
Por isso tenho orgulho das pessoas bem resolvidas, tenho delas, não de mim, um destes patinhos feios.

sexta-feira, 12 de março de 2010

(Des)Acordar

Ontem me apunhalaram nas têmporas e, enquanto estava meio desacordado, me explicaram que não importa quão rápido eu queira que passe, o chapéu mexicano do mundo da a sua volta do jeito que bem deseja.
Apressar-me, retroceder, impossível em escalas estelares. Cometas caiam enquanto seres não identificados se divertiam com a minha lucidez.
Será que isso é real? Onde estou? - Eram os tipos de perguntas que não saiam da minha cabeça.
Até a hora que alguém me soprou um ar quase fresco entre as narinas, estava aqui novamente.
Recuperei a consciência cega de que cada coisa tem o seu lugar e cada dia o seu tempo. Esta experiência única passou e o que me restou foi a sensação de estar mais leve e, no fundo, não faz muita diferença se nada disso realmente aconteceu.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Meu Reinado

Ainda estou com sono,
um chato diante do trono.

Do ápice consigo o fraco,

do fraco o odor,

da dor um remédio,

da droga um coração,

do vício um ser.

Ser um passado desgosto
,
que tudo fosse oposto.

Do fraco ao ápice,

da dor do vício

a droga de ser você.

Um remédio contra o chato
       
pútrido odor do meu ser.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Enquanto isso, na escadaria de um poleiro


Subindo os largos lances da escada até meu canto escuro, afinal elevadores pequenos são o máximo de qualquer fobia, fora a nítida impressão de que um cairá quanto estiver alcançando o pico da minha viagem, me assusta, mas subindo os degraus, percebi como ridícula é esta construção que alguns chamam de prédio, eu gostaria de chamar aqui de poleiro.

Como a caminhada é até que longa e este esforço físico sempre é maior que meus exercícios diários, que são me movimentar do quarto para o banheiro, do mesmo até a sala e ficar, por fim, numa única trajetória, banheiro/sala, e que por sinal não são muitas, ou seja, meu cansaço era incrível (tenho que passear mais) e a demora no trajeto, inevitável. Lógico, esta poluição de algumas fumaças não atrapalha em nada nestas horas.

Assim, devido ao vasto tempo que me sobra das poucas atividades não caseiras, meu tempo para subir aqueles lances eram suficientes para ficar me questionando: ‘Afinal, quem mora neste lugar?’
Passo dias aqui sem encontrar uma pessoa pelos corredores, ninguém a minha volta faz barulho, a única coisa que sinto é um cheiro insuportável de um delicioso temperado das refeições do 503, afinal, nem o nome da pessoa eu sei.

E é assim, como se cada pessoa pousasse no seu cômodo e ali, sem tropeçar em ninguém, entrava do lado de alguém, em cima de alguém, em baixo de alguém... Assim que parece, chego do meu vôo, pego meu canto e espero só a pessoa de cima cagar na minha cabeça, a de baixo, reclamar dos meus pés, e as do lado piarem um pouco. 
Ai que fica tudo estranho, os do lado não piam, ficam a comer e dormir, fora um canto matutino, mas ninguém pia. São quietos demais, e qualquer barulho que faço parece que incomoda os senhores meus vizinhos.

Mas nem tanto barulho faço, minhas asas são curtas e assim o barulho que elas produzem são de uma freqüência que não atrapalha muito, mas e os meus temperos? Será que estes não instigam o morador do 501?
Acho que tenho que os conhecer, é, mas virar o bico pra piar com estranhos, hoje em dia, é perigoso. Estes que voam parecem predadores que não gostam de companhia, todos pequenos caçadores solitários.

Pelo medo de furtarem minha caça, tenho que me cuidar, já minhas asas são pequenas, fácil para um me pegar pelo rabo e assim ser privado de voar por ai, e tudo isso por causa de um tempero? Melhor não!

E assim continuarei pensando que, nem os próximos do meu canto me conhecendo, melhor estarei. Um dia, se preciso, algum companheiro de espécie conhecerei, ah, que seja uma bela fêmea, uma bela companheira de vôos solitários, mas que ela pousasse sem me incomodar e assim eu com ela.
Assim chego à porta de meu ninho após cinco andares desta casa de joão-de-barro, cansado, exausto, minha viagem finalmente chega ao fim. Ah! Amanhã é dia de mais uma, será que atrapalharei o vôo de algum e assim piaremos um pouco? Que seja uma fêmea.

terça-feira, 2 de março de 2010

Apresentação

Uma destas noites caminhava pela pequena bolha curitibana, quando uma jovem me perguntou quem sou.
Ora, esta é fácil, pensei eu. Fábio, sou o Fábio. Mas que diferença faria dizer para esta garota o meu nome, mudaria alguma coisa ela saber meu nome? Daria alguma compreensão de quem sou?
Talvez, e muito talvez, se ela fosse daquelas pessoas que presta atenção nos detalhes poderia notar a força e entonação que daria na minha resposta e ter algum tipo de leitura ao meu respeito.
Fui pra casa sozinho aquela noite, ela sem saber quem eu era, provavelmente nem se questionava mais disto, mas eu, esta pergunta tirou o meu sono. Cheguei a uma conclusão, depois de alguns entorpecentes, sou um pseudo ser.
Tão pseudo que não sei nem me definir. Pseudo intelectual, pseudo filósofo, antropólogo, socialista, jornalista, publicitário, cineasta, musico. Tudo isso em pseudo e ainda somente na teoria, sem saber que teoria se trata. Alias, está ai um bom termo, sou um pseudo teórico. Um ser quase criativo, quase monótono, quase observador, quase cego.
Uma coisa eu posso garantir, nada que será dito aqui deve ser levado à sério, mas também não desconsidere tanto assim, afinal, tudo se trata apenas de um pensamento de um pseudo alguma coisa e lhe garanto, destes todos, nada sei.